21/02/2014

Sobre autoestima, ansiedade e tia Rosa

(Fotografia: We Heart It)
Era quinta-feira de manhã, o lençol da minha cama era azul bebê e eu tinha uma festa pra ir a noite. Na noite de sábado, quero dizer. Tudo bem ainda ser quinta, mas eu precisava me programar. Na verdade, estava me programando há 3 semanas para essa festa. Idealizei durante essas 3 semanas que raio de roupa eu iria vestir. Resolvi até comprar a pulseirinha de couro que a moça da novela das 8 usa, qualquer coisa era válida. Jaqueta nova, calça vermelha e botas de salto. Milimetricamente escolhidos, estupidamente programados. Eu precisava ficar bonita, se é que vocês me entendem. Não bonita, bonitinha. Mas bonita mesmo. Coisa que eu nunca me senti de verdade.

Chegou sexta a noite. O que significava que estava chegando sábado. O que significava que eu deveria dormir um pouco mais cedo para sábado chegar logo. Sol na janela, voz do repórter do Globo Rural. O relógio biológico de alguém despertou um pouco cedo de mais. E coisas totalmente inúteis e acontecimentos que decorreram na velocidade mais lenta do passo da tartaruga, tornaram a noite de sábado mais distante que o segundo que se sucede ao agora.

Ansiedade, ansiedade, ansiedade. Banho. Vestir jaqueta. Calça no lugar. Saltos cobrindo as unhas dos pés pintadas de preto fosco. Me olhei no espelho e pensei "meudeusdocéu, tô a cara da minha tia Rosa!''. E pior que eu nem tenho uma tia Rosa.

Tirei tudo. Droga de calça que me deixava gorda. Droga de jaqueta que só vai até os cotovelos. Eu tinha que sair de casa às 21h. Já eram 21h10. E lá estava eu semi nua na frente do espelho com cara de quem tinha acabado de acordar e dormiu maquiada. A sensação é de que o relógio fica tiquetaqueando e que se você não se apressar, uma bomba vai explodir. INFERNO! Sou feia, vou sair de qualquer jeito, chega de ler livros de auto ajuda e achar que eles funcionam. Não funcionam. Joguei qualquer coisa e saí. Voltei depois para pegar as chaves que havia esquecido. Saí de novo.

Era como se cada célula do meu corpo estivesse gritando nos meus ouvidos que nenhum tempo seria suficiente para que eu pudesse funcionar. Era como se eu houvesse perdido 3 semanas em uma ansiedade que não levou a lugar algum. Era como se a minha burrice se multiplicasse a cada segundo por eu ainda estar caminhando em direção ao meu objetivo inicial. E a pulseirinha de couro partiu.
"Ô, moço, é ali ó, pode parar aqui mesmo.'' 

Cheguei. Fila enorme pra entrar. E lá estava o motivo de toda a minha ansiedade, de camiseta branca e sorriso reluzente. Saia do meu caminho. Finge que não me viu. Finge que não sabe quem eu sou. Não quero te ver. Não gosto de você.

Então ele me alcança e eu dou um sorriso amarelo. E ele diz que nunca me viu tão bonita. E eu reviro os olhos. E então ele repete isso pelas próximas horas. E eu dou vários sorrisos honestos.

Me olho no espelho. Vamos lá, não estou não mal. Verdade seja dita: eu sou a única pessoa que pode caber perfeitamente em mim.

Ps: Não entrei na festa.
Ps 2: Até hoje, nunca usei a calça vermelha.

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